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Desaba(fa)ndo

    

     Eu acordei em uma grande respirada, puxando o ar desesperadamente do pulmão, a boca fazendo um barulho de sufocamento, abrindo meus olhos arregalando-os pedindo para enxergar o mundo a minha volta. Até que eu vi só um feixe de luz bem longe mas tinha certeza de que não era o fundo do túnel, definitivamente não era um túnel. Tudo a minha volta era infinito e escuro, objetos difíceis de reconhecer, embaçado. Logo após senti que não sugava o ar, era água, água que me descia doendo e arranhando minhas narinas e minha garganta. Comecei a me debater em um grito desesperado de socorro. Não tive sucesso. Estava fraca. Resolvi fechar os olhos numa tentativa de acordar daquele pesadelo. Depois de uns minutos que pareceram anos de angústia, comecei a perceber que afinal conseguia respirar naquele lugar, em uma respirada funda senti meu pulmão se encher de alívio e comecei a respirar desesperadamente saindo um som de desespero de meus pulmões querendo captar todo o ar do mundo. Ainda sem abrir os olhos, tentava controlar aos poucos minha respiração, e ainda ofegante já começava a ter mais consciência e conseguia voltar a pensar. Pensar. Agora tinha me dado conta de que tinha parado de pensar, talvez Descartes estava certo quando disse "Penso, logo existo", porque naquele momento sem pensamentos, tinha a certeza de minha morte. 
   Comecei a imaginar coisas gostosas e bonitas. Minhas coisas preferidas. Respirar doía de tanta água engolida, queria vomitar. Precisava colocar tudo para fora. Pensar coisas boas não parecia ser o suficiente. Queria sair dali. Talvez um desmaio caia bem naquele momento. Estava tão cansada. Não conseguia sentir mais nada além de medo, pensava em alguém que amava e não sentia amor. Apatia imensa, e isso me dava tanta dor. Sentia-me desumana, sentia-me um caco, um lixo, um pó. Até que resolvi abrir os olhos novamente e ainda estava no mesmo lugar. Entendi que no meio disso tudo, havia aprendido a respirar ali. Sobreviver. Conseguia voltar a ter algum controle no meio daquele desespero, no meio do desconhecido. E aí, percebi que aquela luz que havia visto no começo não estava mais ali. Então, resolvi começar a nadar para tentar encontra-la. No caminho, comecei a encontrar algumas criaturas estranhas, que chegavam perto de meu rosto, criaturas que me deram muito medo, dor no estômago, e me fizeram chorar de pavor pedindo para que aquele pesadelo acabasse, por favor, eu não estava aguentando mais. Eu ia ser derrotada. Já não sentia minhas lágrimas, minhas pernas, não sentia meu corpo, garganta presa e seca, eu só continuava sem saber onde ir, onde chegar. Era tudo tão escuro, tão embaçado, tão confuso, tão sufocante. Até que cheguei em um caminho vazio, sem criaturas nem nada, só água e eu. Nadei por ali até encontrar uma mesinha com caneta e papel. Não sabia se era de alguém, parecia não ter ninguém ali além de mim, eu também não havia mais nada a perder, me aproximei.    
    Sentei-me na cadeirinha, olhei o bloco de papel, a caneta, olhei ao redor e comecei a escrever como gostaria de sair dali como se alguém pudesse ler e me salvar, porque minha voz não saia, só bolhas. Escrevi que queria encontrar minha família, meus amigos. Escrevi como gostaria de ter alguém. Qualquer pessoa. Até mesmo um cachorro. Começava a sentir meus pulmões mais leves. A dor diminuia virando só um desconforto. Voltava a sentir meu corpo. Escrevi como gostaria que fosse o lugar, um campo ou uma praia com o Sol tocando minha pele e me tranquilizando. Um abraço quente, uma mão enchugando minhas lágrimas, um beijo na testa, um colo. Enchi tudo aquilo de poesia. Enchi de belas palavras. Frases inspiradoras. Frases que me enxergavam e me olhavam com carinho. Encaravam seus olhos nos meus, mostrando-me como um espelho quem eu era ou queria ser, o que sentia, o que desejava. Mais tarde, escrevia como os meus textos poderiam ser lidos e queridos. Escrevia tendo em mente que me ajudava, mas queria mais, queria fazer bem para alguém. Eu queria  salvar alguém para acreditar que eu poderia me salvar e sair dali. Eu precisava do outro, eu precisava do toque, eu precisava de alguém para ser alguém, eu precisava ser o  alguém de outro alguém. Então eu escrevia como se fosse para alguém, mas no fundo sabia que era para mim mesma. Ei, vem aqui, é só me seguir, você não está só, você pode sair, abre a porta, toque a campainha, como preferir. Só vem, eu juro, não vai doer. É só se abrir. Deixa eu entrar, deixa eu te achar, deixa eu te tocar, deixa... Só deixa voar. 
     Até que eu comecei a enxergar uma luz em minha mão direita. Conforme o tempo - que eu não tinha ideia de quanto -, eu escrevia e ela se estendia para o meu corpo todo. Era a luz do começo. Era eu. Tudo ali era eu. Descobri que até mesmo as criaturas eram coisas da minha cabeça. Eram parte de mim. Eu me afogava em mim, em minha escuridão mais sombria e dolorosa. Eu me intoxicava quando mergulhei em mim, eu não aceitava e ansiava a saída. Qual é a saída de si mesmo? E aí eu entendi que só existe luz porque existe escuridão. E se eu era a minha própria escuridão, onde que estava minha luz? No mesmo lugar, em mim. Eu sou minha própria luz. E que tudo ao redor era meu e parte de quem eu sou. Eu era minha morte e minha vida. Eu era a minha dor e minha paz. E no meio do desespero eu aprendi a brincar de ser feliz com poesia e brincadeira de atuar criaturas apavorantes para mostrar a mim meus medos e batalhar contra eles. Eu me salvava de mim mesma tentando escrever umas coisinhas bonitas, fazer umas palhaçadas dizendo que quero deixar alguém bem, mas só estou desaba(fa)ndo. - Luísa Monte Real 

Falta

  

       Eu não sei se eu que dou muito sentido às coisas ou os outros que estão deixando de dar. Parece que quanto mais sentido se perde, mais eu dou. Eu não sei se eu valorizo demais as pequenas coisas ou os outros que não veem graça em nada. Eu às vezes também não vejo muita graça. E quanto menos graça, mais graça em outras coisas  tento dar. Eu não sei se as pessoas tiram o significado de fazer sentido ou eu que dou muito sentido ao significado. Eu não sei se eu que coloco intensidade/sentimento demais nas coisas ou os outros que escondem o que sentem. Eu não sei se eu que tento cobrir demais um vazio com sentidos ou eles que fingem não ter um vazio. Eles... Quem são eles se ninguém é igual a ninguém? Será que eu estou tão distante de ser eles ou eu só tento fugir de ser? Fujo porque quero ser diferente, não quero parecer alienada, mas me alieno na minha própria diferença. Quero ser profunda e conhecer minha dor para fingir ter um controle sobre o que sou, quando ainda me conheço tão pouco e havendo um universo interno inteiro em constante formação para explorar. Como me comparar tanto a eles se sei tão pouco? Minha mente tenta focar em mim, mas meus olhos cismam em julgar o próximo numa tentativa de provar que estou no caminho certo. Estou no caminho certo para quem? Como se meu caminho fosse de alguma maneira capaz de ser de outro e como se o caminho do outro fosse capaz de ser meu. Raciocinar o que quer ser é fácil, difícil é admitir onde estamos errando e conseguir consertar o que de primeira parece ser tão automático. A internet me pressiona, a internet me sufoca, a internet de alguma maneira me reflete meus erros, a internet me reflete o que não quero pro mundo. E quem sou eu para querer algo de um mundo que não é meu? Por que não foco no meu próprio? Por que sempre esperar dos outros? Por que sempre me comparar? Por que sempre competir? Por que sempre lutar para não me sentir menor, pior se sou tão pequenininha e quem não é? O que é ser grande se não ser só você mesmo, pequeno? Assim meio sem graça mesmo com graça às vezes dependendo de quem olha. Aquele sentimento de falta que te afoga na angústia do nadar no nada. Vem alguém na cabeça. Mas não é isso, eu sei. A falta nada mais é do que o real. A falta de uma ilusão que dá graça a essa vida que é assim mesmo, bem medíocre. Real que quem pinta e decora somos nós. E quando o cenário cai? Não pinta, nem decora? Falta. - Luísa Monte Real

Feliz Dia Dos Ex Namorados

    

   
   Você me pediu em namoro na noite do dia dos namorados. Nunca liguei para essa data sem sentido nenhum, qual o sentido do dia dos namorados? Sempre disse que cada casal tinha sua própria data, o que tornava tudo mais significativo, especial e exclusivo. Enfim, essa data ficou marcada afinal, mas por você. Talvez eu não lembrasse do dia certo se o dia dos namorados não fizesse me lembrar. Exatamente um ano depois, te encontrei pelo acaso e resolvi te dizer que mesmo sem você eu ficava feliz por essa data e que gostava de guardá-la. Você ficou se achando o esperto por ter escolhido tal data para manter-se na minha cabeça. E eu fiz questão de te lembrar que se fez algo especial é porque eu é quem era especial. Você me convidou para seu jogo de ego, mas esse jogo eu já conhecia há muito tempo, e você sabe que eu te conhecia muito mais do que você mesmo. Eu não ia comprar essa briga. Não me interessava mais gastar minha energia quando eu já tinha feito minhas malas há muito tempo. Confesso que ainda não tinha trancado a porta. Você queria discussão e eu vi uma ótima oportunidade para trancá-la de vez. Você me xingava numa tentativa de xingar suas próprias frustrações com você. Você me deu a oportunidade de realizar o que no fundo eu sempre quis: te ter como indiferente. É, não tenho orgulho nenhum de dizer isso, sempre tentei manter algum nível de afeto para que não houvesse rancor, e até que todo meu trabalho foi bem feito, porque eu de verdade não tenho raiva de você. Mas talvez eu quisesse mesmo é ter nada. Talvez eu quisesse mesmo esse sentimento de vazio quando penso em você. Não que eu seja melhor ou pior que você, porque não tem como se comparar a alguém que não significa nada do que um passado. Um passado qualquer. Cinza. Olha, desculpa, eu fiz de tudo para que você ficasse como você desejava, lembrança boa. Mas parece que você não fez nada para que isso fosse assim. No final, você quis jogar e eu parei de lutar contra seu jogo só para ficar certinha, dessa vez eu entrei. E amor, eu soube jogar. Eu soube jogar porque vingança para mim eu ofereço com nada mais do que a sinceridade e com minhas qualidades. Eu soube jogar, porque diferente de você eu escolhi ser indiferente, eu escolhi não sentir nada. Eu escolhi não me envolver numa briga que era você com você mesmo, porque eu já tinha ido embora há muito tempo, e a Menina da sua cabeça, com quem pensava jogar, não existia mais. No final a gente jogava o mesmo jogo, mas o meu tabuleiro já era outro. Te agradeço por dar-me a oportunidade de mudar, porque se não fosse sua tentativa de me diminuir, me desvalorizar e me tornar só mais uma louca da sua vida eu não ia, agora, querer tanto não perder tempo em um tabuleiro já empoeirado, me fazendo andar, finalmente, para onde eu queria. Foi Game Over para você. 
      Você se tornou indiferente pra mim quando não quis mais seus problemas. Quando brigar não era mais problema meu. Quando o que você pensa sobre mim não me diz mais nada, porque você não mais me conhece. Quando seus xingamentos não me afetam porque eu só lamento pelo que você faz com você mesmo. Quando eu tenho a consciência limpa de que o erro não foi meu. Que eu não fui nada menos do que eu sempre quis ser: amor. Que eu te entreguei uma rosa, recebi pedra, mas você mirou numa Menina que não existe mais. E para quem queria tanto que o meu dia dos namorados ficasse marcado por você, eu sinto muito, e eu nem se quer tive o trabalho de apagar você, você fez isso por mim e fez muito bem. Eu desisti de você. Eu cansei de você. E talvez seja o sentimento mais desumano que eu já tive por alguém, mas talvez seja o que você se fez merecer. E eu não tenho nada a ver com o que você escolhe receber. E finalmente, aceitei te dar o que quer receber. Nada. Não te desejo mal e acho ridículo ex que precisa brigar para ver quem é melhor. Também não vou desmentir a Menina que lutou por você, a Menina que se jogou, que fez tudo para te melhorar, que sentiu muito e que sofreu. Nem vou dizer que você não evoluiu e nem que não mudou. Mas hoje, você é só uma pessoa por aí que não me importo de encontrar nem de desencontrar. Você é só uma pessoa que marcou meu passado muito bem, mas que quero ser marcada com tão mais... você é só uma pessoa que eu avisei tanto sobre valores, mas vazio, vai se encontrar na minha falta. Eu tentei. Mas só é ajudado quem quer ser. Hoje, o dia dos namorados é só um dia comercial em que as pessoas escolhem se dar carinho, hoje é só um dia em que é, você até me pediu em namoro, mas e daí?! "E daí?!" é a melhor expressão que eu tenho para tudo que me lembra você. Já dizia a música The Lumineers "o oposto de amor é a indiferença." E hoje até pode ser um dia de algum meu ex namoro. Mas, e daí?! - Luísa Monte Real 

Cansei de Ser Linda


Hoje eu vim falar que eu cansei de ser linda
Eu cansei de andar na rua e ouvir assovios quando estou indo pra faculdade com uma roupa qualquer
Eu cansei dos olhares que me perseguem
Essa falta de sensibilidade, educação respeito
Respeito do meu espaço
Cansei de ser sua
Porque meu amor, não deixam eu ser minha?
Cansei de andar na rua e ouvir "linda" como se alguém tivesse pedido sua opinião
Cansei de andar como se estivesse na terra de outro
Essa terra é minha também
Cansei de ouvir "cuidado com esse decote"
Cansei de ouvir que ciúmes é o amor que sinto por você
Cansei de ouvir que homem não sabe ser amigo
Cansei de "friend zone" como se eu só servisse pra servir
Cansei de ser chamada de louca quando você erra e não tem capacidade de conversar
Sobre sentimento
Cansei de ter que ser desejada e nunca desejar
Porque senão, eu sou puta
Cansei de calar
Cansei de ouvir " nossa que cara de santinha, novinha. São as piores."
Cansei de ser linda porque talvez você nem ache isso mas quer me comer
Cansei de ouvir que só sou feliz se casar
Mas se o homem casa, ele diz que a diversão acabou
Cansei de ser linda porque quero ser muito mais
Quero ser inteligente, corajosa, forte, dona do próprio negócio, simpática, legal, engraçada, interessante
Eu quero ser interessante. - Luísa Monte Real


Coragem Covarde de Um Corpo Sem Alma

   
 
    Eu estava tomando um café em uma livraria qualquer quando um homem alto e magro, com a cabeça baixa, passou por mim e não sei por que senti vontade de escrever sobre ele. Mas precisava do olhar dele, precisava encontrar seus olhos. Dizem que a porta da alma são os olhos. Ele não olhava, e não olhava para ninguém. O que o fazia ter a coragem de me deixar esperando seu olhar? O que o fazia ter tamanha coragem de não olhar para cima só olhar para baixo onde não havia nada mais do que seus próprios passos e seu umbigo? Tomei meu último gole de café e quando olhei para cima não o encontrei mais. Procurei-o por todos os lados, e nada. Questionei-me se minha obsessão por encontrar sua alma me fez alucinar sua presença. No final, só fiquei com raiva e decidi escrever o que me vinha na  cabeça de primeira para sentir que completava uma missão que nem tinha começado. 
   Costumo pensar que o que você fez foi por medo, falta de coragem e covardia... será? Será que não sou eu tentando achar um bom motivo para ter sido rejeitada? Será eu tentando te diminuir para sentir que eu sou tão incrível assim? Bom, a culpa não é toda minha, afinal, quantas vezes você disse que eu merecia alguém melhor? Pensando agora depois de um tempo convivendo com sua falta e tentando ser cada vez mais realista com a situação, me pergunto se não foi um ato de coragem, afinal. Sim, tem que ter coragem e peito para trocar de rumo, eu sei quantas vezes eu sofri e me desgastei por ter que ir embora de você. Tem que ter coragem para escolher o medo e fugir. Não foi à toa que você ficou enrolando aparecer por semanas... penso agora se você pela primeira vez talvez, teve a coragem de se amar e se colocar em primeiro lugar, antes até mesmo de seus impulsos e sentimentos, e não olhar para cima. Mas será que amar a si próprio seja ser tão racional e egoísta assim? Coragem de deixar tudo o que tinha nas mãos para cuidar do que achava que era certo para você e para mim. Ou será eu que não vejo sua coragem e sou egoísta por não respeitar sua decisão?      
   Talvez pela primeira vez você tenha tido uma atitude de homem. Talvez pela primeira vez você tenha levado sentimentos e relacionamento a sério por estar diante de alguém qualquer, mas que via como mulher com olhos de homem e não como objeto com olhos de menino. Talvez pela primeira vez você não quis brincadeira e nem agir sem pensar. Achei que era covardia sua porque você sempre teve medo do amor, sempre esteve inseguro, e talvez a coragem tenha sido admitir uma covardia, uma imaturidade, e respeitar seu próprio tempo. Coragem de ir embora e se quebrar. Achei que era covardia porque parecia uma desculpa esfarrapada. Mas é preciso coragem para não ouvir o coração. Achei que foi covardia porque mesmo depois, você deixou para mim, como sempre, a parte mais difícil: a de dizer adeus para suas costas. E talvez a vida seja assim mesmo, de um jeito ou de outro estamos sendo corajosos. Talvez a vida seja assim, totalmente oposta à matemática e inteiramente literária, onde o paradoxo está sempre presente, onde o que não faz sentido passa a ter, onde os opostos coexistem e se complementam. Onde cabe a coragem de se ser covarde. 
    Terminei de escrever e refleti como gosto de inventar histórias e sentimentos que são meus ou que gostaria que fossem meus. Você apareceu novamente, minha sobrancelha se levantou, dei um sorriso curioso e meus olhos brilharam. E então você, finalmente, olhou dentro deles e eu sumi para dentro de seu corpo ocupando o espaço que se chama de alma. - Luísa Monte real

Te Rotinamar


    A verdade é que eu te chamaria fácil de "amor" em meio a um sorriso e risada boba, revirando os olhos dizendo que você tá com o hálito de cerveja, e você faz careta dizendo que sou chata e não sabe como eu não gosto dessa coisa tão sagrada. E aí depois a gente parte para outra discussão onde eu tento entender o porquê de você e o mundo acharem que a palavra "top" não é top. E você iria rir achando que eu sou estranha, enquanto eu te abraçava e sentia em meu ouvido sua risada ecoar por dentro do seu corpo e sentiria seu calor ao me abraçar de volta.
   É que eu facilmente me imagino com você em um domingo frio, em um final de tarde de tédio, na sua sala de estar, terminando de ver algum filme que a gente nem gostou e ficamos em silêncio olhando um para a cara do outro esperando a noite chegar e eu ter que ir embora, deixando sua casa vazia numa sensação de como se a tarde tivesse sido tão mais legal assim comigo. A verdade é que eu consigo me imaginar te olhando com os olhos brilhando como se você me despertasse uma luz de alegria boba que vem de dentro para fora. E eu fitaria meus olhos em sua boca e depois olharia por dentro dos teus olhos implorando para que você adentrasse nos meus. Enquanto se aproxima para beijar minha boca que você acha ela tão bonita, desenhadinha, em forma de coração onde na ponta ela tem uma falha que a torna única, que te desperta mais ainda o desejo de ser só sua. É que eu não sei se você é perfeccionista. Se for, essa seria a falha perfeita em meus lábios, e se não for, os lábios seriam perfeitos pela falha. E aí, eu viraria o rosto para você beijar minha bochecha e sentir meu cheiro que te faz me querer mais apertada em teus braços. 
    É que eu consigo imaginar a gente discutindo quais sabores de sorvete são os melhores e você me achando um E.T. por dizer que eu nem sou tão fã de sorvete assim, e eu te achando ridículo por ver tanta graça assim. É que eu consigo imaginar essa mistura de uma fantasia quase sem graça de tão clichê, com uma chatice viciante de tão gostosa. É que eu consigo imaginar a gente caindo na rotina de um amor sem graça e comum, mas que dá sentido e euforia. A verdade é que eu consigo imaginar você fazendo piada de como eu durmo na posição de uma múmia dando a impressão de que morri, mas o quanto na verdade adora acordar antes para ficar me analisando naquela cena engraçada que faz eu parecer tão linda em teus olhos. Depois em uma vontade de me esmagar, você deita a cabeça em meu ombro encostando o nariz no meu pescoço e sentindo meu cabelo em seu rosto, me abraça com pernas e braços dando um sorrisinho que é quase um suspiro da alma. A verdade é que eu consigo imaginar eu fingindo que dormi nos teus braços, só pra você ajeitar meu cabelo para trás da orelha e beijar minha testa. E aí quando ouço sua respiração mais forte sei que dormiu e coloco-me mais perto para ouvi-la melhor enquanto desenho devagarinho seus braços, seus ombros e seu tórax com a ponta dos dedos. Depois brinco com a sua barba bem devagar para não te acordar, e penso que nunca fui muito de gostar de barbas, e que elas pinicam, mas que a sua cai tão bem no seu rosto. Aquela barba meio ruiva, meio castanha, que não sei como virou moda do nada se genética não se pinta. E penso que não interessa com ou sem barba, eu iria achar a coisa mais gracinha para se refletir antes de dormir. Você.    A verdade é que eu ainda não sinto nada dessas coisas e nem sei se sentiria, mas consigo imaginar e mergulhar nisso como se realmente tivesse vivenciado ou quisesse vivenciar com você. Talvez você me ache louca, mas desenhei em minhas memórias toda uma rotina do nosso amor e já não sei o que é meu e o que é do (a)mar que inventei de nadar com você. Sem saber se quero querer, eu imagino querer te rotinamar. - Luísa Monte Real

O Universo Ela


    Ela, que se voar bem alto não vou impedir, e que se eu não alcança-la, meu coração vai. Ela, que se for embora, vou chorar de saudade, torcendo para que seja ainda melhor que agora. Ela, que prefiro que a dor dela doa em mim do que nela. Ela, que eu quero que suba bem alto e todos possam ver quem é ela. Quem é ela? Falo "ela" porque pessoa é no feminino. Hoje, pouco me importa a matéria que ela se esconde e se apresenta. Hoje vim falar dela como gente, mas mais do que isso, como alma. Que alma! Se tirassem seu corpo não faria falta, porque ela é tão mais... Ela é tão mais profunda, além. O corpo dela é como a terra em um Universo inteiro. Importante, mas não diz tudo. Ela é Universo. Um Universo que eu entrei e nunca fiz questão de achar a saída. Aconteceu tudo tão naturalmente que parece que já estava escrito. E talvez estivesse. Os anos passam, mas todo dia que a vejo é como se fosse o primeiro, porque sei que ela sempre tem alguma coisa para eu conhecer, me ensinar, me inspirar. Eu danço pelo Universo dela sempre com muita sede de descobrir e ajeitar o meu próprio. Se encontrar qualquer coisa fora do lugar, quero ser quem escuta sobre aquilo para que ela possa arrumar ou desarrumar do jeito dela. O jeito dela...Ela é doce. Pensa numa pessoa doce. Ela é. Ela tem os olhos mais sinceros para o mundo. Ela enxerga cada pessoa além do que está ali, porque ela sabe que ela é muito além, ela se criou para ser e assim, consegue saber que todas as pessoas têm seu próprio além, mesmo que muito escondido. E aprendi isso com ela, muito tempo atrás, ainda pequena. Porque por muito tempo meu Universo ficou ecoando no vazio e eu só via minha dor e nada mais que corpos a minha volta. Ela me ensinou coisas sem precisar explicar, sem precisar querer, só por ser. Ela me ensinou a tirar os olhos de mim mesma. Ela é doce e vai colocar um pouco do açúcar em seu coração. Não precisa se preocupar porque ela sabe a quantidade certa para não te dar diabetes. Ela vai te olhar com calma e te sorrir com a alma. Ela vai andar de bicicleta com você e tirar as rodinhas se ela ver que tá na hora de você ir. Ela vai amar você mesmo se você cair, talvez ela até te ame mais ainda depois de te segurar. Ela é o tipo de pessoa que te dá dois tapinhas nas costas para você seguir, mas aparece na sua frente para te pegar se tropeçar. Depois, ela vai te falar o que tem que ser dito porque ela sabe que o melhor é te colocar na realidade e lutar por ela. E ela luta, porque ser ela é ser leve, mas custa esforço, foco e nunca se abandonar. A voz dela é livre de armas, mas lança segurança e calma aos teus ouvidos. Ela é boa. Ela é forte e faz de tudo para se cuidar e para cuidarem dela. Ela carrega dores como qualquer outro, ela carrega defeitos, ela carrega dificuldades. Ainda bem, porque assim ela pode sempre se superar e ganhar coragem. Devagar, porque a pressa é inimiga da perfeição. E uma vida perfeita é uma vida sem mais sentidos ou um sentido tão grande quanto a ilusão. Ela é inteligente para os padrões da sociedade e para os foras dos padrões. Ela faz contas e expressa suas artes. Ela repete fórmulas e racionaliza filosofias. Afinal, não sabemos desde quando exatas virou algo mais racional do que humanas, se humanas também existe, e muito, o pensamento? Material ou imaterial? Ela gosta dessas discussões de virar a cabeça e o mundo de cabeça para baixo, ou de ponta cabeça, como preferir. Ficaria horas tentando entender o mar de estrelas e o céu de ondas. Ah e não poderia esquecer de uma das características dela que mais me ganhou. A graça. Ela tem esse jeito bobo, idiota e inocente de ver graça em tudo. Fazer piada quando não deve. Rir sempre e até quando não pode, aí é que dá vontade de rir mesmo. "De todos os loucos do mundo eu quis você, porque a sua loucura parece um pouco com a minha.". Essa loucura de brincar e não morrer nossa criança.


"Eu que aprendi a ser criança depois de adulto
Eu deixei de pertencer
Ao grupo seleto dos que se comportam muito
Enxugo as minhas frustrações
E me sinto muito mais enxuto
Junto com você
A vida dá ré e eu volto a ser o que eu era com você
Eu que aprendi a ver o mundo através dos seus olhos
Encontrei a cor exata da felicidade
Que invade meu viver
Nem sei quem era antes de você". - Mar Aberto

  Deixa eu ser sua e por favor, seja minha. Assim, desse nosso jeito livre de querer e amar sem precisar de forma angustiada e faminta. Desse jeito de ser nosso, mas de abrir para o mundo e se joga! Se joga porque o mundo precisa te ter, minha pequena. Deixa eu te carregar se precisar. Entra na minha casa que você já é daqui. Passa aqui e toma aquele sorvete com nuttela que você ama! Ah, e com brownie? Deixa eu te abraçar e te falar coisas profundas que a gente tem aquele nó na garganta de dizer pessoalmente porque expõe nosso Universo. Deixa eu te dar meu sorriso com meu jeito de unicórnio, país das maravilhas numa 2ª dimensão (hahahah). Deixa eu ser um Universo dentro do teu.