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Dormir e acordar no nada

 

    É que eles já não sabiam mais olhar o Pôr do Sol sem se avisar para olhar o céu, ou para ver como o céu estava com estrelas e a Lua linda. Ela já não sabia mais como era ter que deitar sem cair no sono escutando sua respiração ficando mais forte e devagar conforme ele ia se entregando para o travesseiro. Era uma coisa curiosa como a respiração dele não a causava incômodos, era tão particular e gostosa. Causava os mesmos efeitos que uma canção de ninar para ela, dava a certeza de que ele estava ali e tão perto... Ela já não sabia mais dormir sem achar graça das frescuras dele de conseguir dormir. Ela já não sabia mais o que era acordar e não ter que esperar algumas horas e ouvir ele se mexer todo sabendo que ele estava despertando. E ali, ela já abria um sorriso esperando ele gemer se espreguiçando e logo depois a chamando, sussurrando perguntando se estava acordada. E o tom de sua voz era de um sorriso estampado por acordar ao lado dela. Depois, perguntava se estava há muito tempo aguardando, e com um sorriso de brilhar os olhos, ela respondia sem jeito "mais ou menos". E ele perguntava se ela já tinha comido e por que não tinha ido comer ainda. E ela respondia: "estava esperando você". Ela não sabia mais o que era acordar, e um não se perguntar ao outro: "quem foi que dormiu primeiro?".
   Ele já não sabia mais como não fazer aquele ritual de ver séries com ela sempre querendo fazer a vontade dela pedindo para ela escolher qual seria a do dia, e depois ficar conversando com ela até a hora que sente que vai dormir e diz a ela que a ama com uma voz dengosa. Fica chamando ela mil vezes e com uma voz baixa, mimada e birrenta: "Eiii, eu gosto de você." Ela ri e fala que também gosta imitando a voz dele. E ele diz: "mas eu gosto de verdade". Ele já não sabia mais como não dormir sorrindo depois de ouvir a voz dela ecoando em sua mente que o amava e no silêncio calmo em que ela dormia como uma múmia, ele mergulhava achando sua paz. E ele, ao acordar, já não sabia mais como era acordar sem aquele motivo para sorrir. Ele sentia falta de como não só o mau humor não se fazia presente ao despertar com ela, mas em como acordava sorrindo apaixonado com paz e conforto no coração.
   E essa foi a parte mais difícil quando deixaram de ser um do outro. A hora de dormir e acordar. Era a hora em que sem  palavra alguma, olhar ou sentido consciente, eles se encontravam mais juntos em demonstrações de amor calado. Era a hora em que os corpos se desligavam totalmente e as almas se conectavam. Era a hora em que o amor recíproco dançava pelo ar e ninguém nem mesmo precisava se olhar para saber que o outro sorria e sentia aquilo. Um amor que trazia uma calmaria e uma alegria que só eles eram capazes de entender. Ela teve dificuldades em dormir e pesadelos por meses sem ele ali. Ele acordava chutando o armário diariamente sem ela ali. Com o tempo, foi passando. Mas toda noite e toda manhã era a mesma coisa. A falta. O vazio. O buraco. Ela costumava se distrair até que o sono a detonasse na cama e ela dormisse sem perceber. Porque se ela fechasse os olhos antes do sono a pegar... memórias, saudades, fantasias de estar com ele, choro... Sem ele. Ele ficava até de madrugada bebendo, transando, encontrava os parceiros para que chegasse morto em casa, capotasse na cama e acordasse atrasado para não ter tempo de ouvir o nada. Sem ela. O que era luz se tornava escuridão. O que era mágico e fantástico se tornava dor e náuseas. Não era saudade, era falta. Ela queria fazer um contrato de só poder dormir com ele, era só o que ela queria, mais nada, ela promete, era só para não ter pesadelos. Ele queria fazer um contrato de só poder acordar com ela, era só o que ele queria, mais nada, ele promete, era só para acordar sem mau humor. Eles só queriam seu canal de maior conexão de volta, não precisava do resto, sério mesmo. Mas no final, o que eles queriam mesmo é que o canal nunca tivesse se partido, e que o resto não fosse, na verdade, uma grande parte do nada que antes era preenchido. - Luísa Monte Real 

Música



Música é energia 
Música é poesia 
Música é brincar de nostalgia 
Música é viver, reviver
Inventar e reinventar 
Música é mistura de sensações e emoções.
Música é viajar dentro de si pelo som.
Cada dia me quero em um tom.
Música é calmaria que arde 
É dor em balde 
É corpo que sacode 
Arte que explode.
Música é lembrança gostosa 
É descoberta teimosa 
Repete, repete, repete... 
Música é alma escancarada 
Vergonha abafada 
Lesão curada. 
Música é amor
Uma dor
Uma pessoa 
Um sorriso 
Um pensamento 
Um sentimento 
Um esclarecimento 
Um sufoco 
Um alívio.
É um olhar pela janela chorando no metro 
Um ou dois dramas a mais.
É um show particular no banho 
É uma ou duas alegrias a mais.
A música - como todas as artes - 
É a passagem mais direta de encontrar-se,
Mostrar-se,
Expressar-se,
Conectar-se
Com nossa própria alma. 
E como amo esse meu lugarzinho. 
Aqui bem dentro de mim 
Onde a música vibra 
E faz eu me sentir mais viva. 
Lugar que é só meu
Que só eu sei.
Único.
Profundo. 
Que não se vê e só se sente,
Como as ondas sonoras. 
- Luísa Monte Real

A loucura pela paixão


  Acho engraçado que as frases que mais ouço no meu dia são: "Luísa você tá bêbada?"; "Bebeu?"; "Pera, você não é maconheira???Mo jeito de maconheira"; "Luisa, tu fumou?"; "Quee isso tá doidooona...". E acreditem se quiser, meu apelido já foi até "cracuda". Não, gente, antes que digam qualquer coisa, não sou o estilo que bebe e finge estar bêbada só pra causar e chamar a atenção. Não sou aquele tipo "nossa, que ridícula, é uma adolescente perdida querendo aparecer". Para começar nem gostar de beber eu gosto muito. Eu simplesmente sou uma mistura de tranquilidade com um levei um choque na cadeira e sai rebolando por aí. Sou aquela mistura de introspecção com extroversão. Uma hora to lá e em um instante me conecto com algo aqui, em pensamentos que me deixam completamente fora da realidade. "Ih oh lá, tá viajando...". Estou mesmo, eu viajo o tempo todo, viajo em uma conversa, em uma música, em um sentimento, em um pensamento... Tenho o poder de me teletranspotar, e nem sabia disso antes de refletir sobre os tantos recados que recebi dizendo o quão maluca eu sou. Eu sou tão dentro de mim que acabo me expandindo para fora viajando em diversos universos, mergulhando no mar do outro com meu jeito sem vergonha de ser.      
   Quer saber?! Eu sou louca louquinha mesmo, porque gosto de me sentir humana. Gosto tudo intenso, gosto de mudanças e de poder ter o gostinho de ser tudo um pouco. Gosto de sofrer, mas sofrer por inteiro sem engolir uma gota de meu próprio veneno. Gosto de amar, mas amar com o peito aberto e inteiro. Gosto de rir, mas rir até doer a barriga. Gosto de achar tudo engraçado na idiotice e na bobeira. Também gosto de sentir raiva e sair gritando por aí. Gosto de ouvir uma música, fechar os olhos, sorrir e senti-la batendo em minha alma. Gosto de ser sincera e expressar o que sinto para o outro. "Luísa você é doida? Que coragem". Gosto de me ver livre de rancor e de dar chances para o outro. Gosto de ser rejeitada e ter a possibilidade de um recomeço andando no escuro. Gosto de arriscar e não me arrepender de ter tentado. Gosto de ter uma ideia e fazer na hora.  Já dizia Freud que paixão é uma loucura, e tenho certeza que essa é a minha. Gosto de me apaixonar, se não for pra se apaixonar nem confirmo presença, nem mesmo marco que tenho interesse. Sou apaixonada pela vida, pela minha história, pelos meus erros e acertos. Apaixonada pelos meus dons e pela minha vontade de ser sempre alguém melhor. Apaixonada pelo que sinto por alguém ou algo. Não estou dizendo que penso que vivo em um conto de fadas e saio idealizando e me iludindo por tudo que tem por aí. Talvez um dia eu tenha sido assim, mas hoje, penso que sou uma pessoa realista que simplesmente consegue e prefere ver o lado positivo das coisas, lutando e vivendo em uma loucura particular na qual encontro muita paz e um sorriso com emoção nos olhos. Porque se for pra sair de casa sem viver poesia, eu nem saio. E se for pra viver na loucura de só me lamentar, eu nem vivo. É essa loucura que me faz levar a vida com leveza. É ela que me dá a certeza de que o leve de viver está na felicidade que escolho e encontro dentro de mim, todos os dias. - Luísa Monte Real

Liberte-se e sinta



   Eu descobri o que era liberdade quando ser ansiosa não fazia mais sentido. Eu descobri o que era liberdade quando o meu maior objetivo virou viver um dia de cada vez. Quando me dei conta de que nada é certeza nessa vida e que essa é a graça. Quando descobri que a vida anda, gira e retorna independente de eu tentar calcular todos os passos que eu devo ou não dar. Independente do controle, a vida mexe, e ela é mais rápida e esperta do que você. Eu descobri o que era liberdade quando me dei conta que quem me prendia não eram meus pais, nem ninguém, era eu. Entendi que ser livre é me dar a chance de fazer escolhas o tempo inteiro. E de que fazer escolhas depende sempre de ganhar, mas ao mesmo tempo de perder. E lidar com a perda é o mais difícil, não é à toa que muitos se prendem a dizer não ter escolhas e não sair do lugar. Mas entendi que se eu me der liberdade e quiser eu posso escolher, voltar atrás, escolher de novo, reinventar e consertar. E ah, ser livre também é uma escolha. Sim, ninguém te dá a liberdade. A liberdade é só mais uma dessas coisas que se você não correr atrás, ninguém vai correr por você. Liberdade é entender que a vida é sua e que se você deixar, os outros não tem nada a ver com isso. Liberdade é deixar de ser egocêntrico e achar que tudo que o outro faz é para te atingir, é entender o outro além do que está na sua cara. Liberdade nada mais é do que ter responsabilidade por si mesmo. É se reconhecer como é, enxergar como quer ser e lutar para se tornar. Ser livre custa caro, mas o retorno é sem igual. Ser livre você tem que abrir mão desse seu orgulho, abrir mão de culpar sempre o outro por escolhas suas, abrir mão de ficar parado no seu lugar esperando a vida agir, dizer que é destino e se privar de tantas escolhas que podem ser feitas, ah se engana quem pensa que ficar parado não é uma escolha... E se você escolheu, tome responsabilidade do seu vazio. Ser livre é abrir mão do julgamento dos outros, e principalmente dos seus. O julgamento enquadra, tira possibilidades e diminui. Se permita se encontrar e deixe que o outro se encontre também, o tempo inteiro, não importa quantos anos você se conheça ou conheça o outro. Ser livre é reconhecer que você não consegue ser livre se não deixar o outro florescer também, se desprenda. Diferente do que muitos pensam ser livre nada que tem a ver com desapego. Liberdade é encontrar amor dentro de si e se permitir encontrar em outros corpos. Aquele amor tranquilo, que não controla, que não tem insegurança, que a certeza não tem lugar e que a naturalidade é quem passeia. Liberdade é entender que o outro não te deve nada, é fazer porque quer, e não pensando no retorno. Liberdade é desinflar o ego e investir no de dentro. É rir de si mesmo molhado quando esquece o guarda-chuva. É ser espontâneo. É aceitar, perdoar, permitir e amar os erros, pois sabe que são eles que nos dão a possibilidade de sermos melhores, e imperfeitamente livres. Liberdade é como andar numa floresta de olhos vendados onde você corre grande perigo, mas se depara com os sons mais relaxantes e bonitos, experimenta os cheiros mais saborosos e tateia uma diversidade de sentidos intensos e insubstituíveis. 

Pedacinhos do meu lar

     

    Uma vez eu te falei que não me sentia muito em casa, aquela coisa de "lar", morando no Rio. Por mais que eu amasse muito, é difícil morar em um lugar onde você não foi tão bem-vinda assim por ser paulista, e a primeira impressão me fez querer fugir dali. Difícil também, desconstruir essa imagem de "férias" que essa cidade tem para mim, era como se eu fosse voltar para algum lugar, algum dia... mas não sabia onde nem quando, porque minha infância toda mudei de cidade em cidade, e não sabia ao certo qual era meu lar. Se me perguntassem, não me sentia perto dos cariocas nem perto dos paulistas. Talvez meu lar fosse em um lugar em que eu nunca morei, mas onde eu sempre fui para visitar o resto da família. Ah, acho que também não... E então, quando te expliquei tudo isso, você me fez uma pergunta tão simples, mas que apontava para a resposta certa: "Eu faço você se sentir em casa?". Eu demorei a responder por alguns minutos porque nunca tinha parado para pensar sob esse ângulo, nunca havia reparado na proporção  que o seu aconchego tinha tomado em mim. E sem hesitar, eu respondi que sim com um sorriso, realizada e surpresa. Você falou que então, nada mais importava e que eu não precisava me cobrar tanto. Você é tão lindo e sabe exatamente o que dizer às vezes... 
     Hoje estava eu em minhas redes sociais e li "lar é onde você quer estar" e lembrei-me muito bem desse dia. Estou longe de você, da minha família e dos meus amigos. E nunca me senti tão fora do meu lar.  Lar é essa coisa que a saudade dói demais quando não estamos nele. Lar é essa sensação de ninho, acolhimento, essa sensação de pertencer, se encaixar - como sempre gosto de usar -, tudo é como um quebra-cabeça, e o lar é a sua pecinha se encaixando na outra, seja ela um lugar, os braços ou o olhar de alguém. Até mesmo viajando encontrei pedaços do meu lar por toda parte. Em lugares que passei por pouco tempo e fazem doer de saudade, e em pessoas que nem ganhei muita intimidade, mas que me conectei de alma e guardo no peito. Descobri que nesse quebra-cabeça, algumas pecinhas se encaixam em várias outras. Algumas pecinhas só se encaixam em algumas. E algumas pecinhas até mesmo conseguem mudar de forma para se encaixar. E de alguma maneira, no meio de tanto desencaixe e encaixe, nossas pecinhas se encaixaram muito bem. E seu abraço, seu sorriso e sua voz, hoje, parecem ser um dos meus lares favorito, seguro e aconchegante do mundo. E agora que estou aqui, parece ser o mais desejado quando estou longe. Enquanto nos encaixamos no encaixar de outros, nossas peças continuam a achar novos meios de se encaixar, formando uma bela dança de conexões múltiplas que é a vida.

Decepções na sua porta 2.0














E entre vindas e partidas,
Você disse vem...
E lá estava eu de novo
Eu que tinha jurado que meu amor,
Você perdeu.
Você me prometeu uma cama,
Um sofá, uma tartaruga e um cachorrinho
Prometeu até me fazer gostar de gatos
Prometeu cozinhar estrogonofe pra mim
Prometeu cuidar das minhas cólicas
Prometeu enxugar minhas lágrimas
Você prometeu me acordar
Todos os dias, com beijos antes da faculdade.
Você me prometeu uma casinha pequena,
Para dois e bem apertadinha
Você me prometeu séries e filmes todas as noites
Prometeu viagens nos feriados
Prometeu sorrisos e provocações
Prometeu ser meu lar
Você me prometeu amor
Prometeu me fazer a mulher mais feliz do mundo.
Então eu aceitei.
Te dei mais uma chance
Percorri toda aquela calçada mais uma vez
Dei "oi" pro seu porteiro,já cansado de me ver tantas vezes ali...
Te esperando.
Entrei.
Te abracei.
Me alegrei.
Despertei.
Um dia, cheguei.
A fechadura já não era a mesma.
Você a trocou.
E eu esperei no corredor.
A luz acendia.
A luz apagava.
Ouvi seus passos,
Mas não te reconheci.
Você abriu a porta.
Calei tua boca antes que falasse.
Minhas malas mal estavam desfeitas.
Juntei tudo e fui.
Menino, você não sabia com quem tava mexendo.
Sou mulher de atitude.
Você promete, eu cobro.
Você dá ideia, eu faço.
 Eu sonho, eu busco.
Tenho medo, e não reparo.
Não me alimento de desejo,
Me alimento de realização 
E na tua porta me deparei de novo.
Já você...
Ainda que me surpreendi,
Você caiu em si
Que pra ti,
Agora não dá.
E com coragem,
Me negar.
Você não se encontra.
Você mal sabe o que quer.
Você mal sabe onde fica sua porta.
Tem a audácia de falar,
Sem a responsabilidade de fazer.
Sem nunca focar e lutar,
Quer escolher.
Quer ter muito pra dar,
Quando não sabe receber.
Quando descobrir qual é a tua
Vai bater em minha porta
E vai encontrar
O vazio...
Que recebi enumeras vezes.
E agora, é a sua vez de receber
O eco do teu grito no apartamento
A marca do teu soco no cimento
A poeira deixada no esquecimento
Arrependimento
Sofrimento
Porque eu fui.
Mas fui mesmo de(ssa) vez.

-Luísa Monte Real

15 passos


  Eu só queria que eu ainda pudesse ser seu colo. Que você corresse pra mim pedindo pela calmaria que eu te dava. Que você deitasse aqui nos meus palitinhos que chamo de perna e eu entrelaçasse meus dedos em seu cabelo fazendo um carinho bem gostoso. Que você me ligasse chorando e jurando que nenhuma lágrima havia caído. Que você estivesse explodindo de raiva e eu te fizesse dar aquela risada tão gostosa. Eu queria, eu juro que ainda queria ser esse seu encosto. Dói-me pensar que você está por ai se sentindo perdido e sem amparo. Mas como você mesmo vivia me dizendo, as coisas não acontecem só porque a gente quer. E é por isso que eu tive que ir. Ei, não fica assim não, promete?! É pro seu bem, eu juro juradinho. Não, minhas palavras nunca foram falsas, sempre te disse que queria você por perto mesmo que fosse só nas lembranças, sempre te disse que meu amor por você não deixaria de existir e sim, ficaria guardado em uma gavetinha. Mantenho minhas palavras e infelizmente, chegou a hora de cumprir. É que por muito tempo eu fui seu apoio, e isso não é bom nem pra mim, nem pra você. Não estava sendo bom pra mim ter que cuidar mais de você do que de mim. Eu pareço ser essa pessoa cheia de estruturas, bases sólidas, forte, alegre, positiva pra você, mas também tenho que me cuidar. E meu bem, eu esqueci... Esqueci de mim por você, deixei de lado toda a minha forma para ser sua rede de balanço. Você sentou, se acomodou e ficou... Balançou, balançou... E por isso não era bom pra você também. Eu te prendi porque te dava aconchego demais. Você não andava pra frente nem pra trás. Só ficava ali, parado. Eu tentava te empurrar pra frente pra acompanhar meu balanço, mas você era mais forte e parava a gente. Amor, a vida não é um jogo, não se volta caminhos para trás, só se anda para frente. Amor, nós estávamos em outro nível e você insistia em voltar 15 passos para trás. Para andar os 15 já foi difícil... Eu te empurrava 2, você voltava 1. Eu te empurra 4, você voltava 3. Eu te empurra 8, você voltava 6. Eu fazia o esforço por duas pessoas. Eu te carregava. Eu era o mar inteiro e você uma âncora que só se mexia depois de uma tempestade. Eu perdi forças. Quando vi, virei uma praia só de areia um pouco molhada e você lá parado, há 15 passos atrás. Não deu mais. Tive que ir. Não tinha mais água que te puxasse pro nível certo. Agora, agora preciso me preencher de volta. E você meu amor, você precisa deixar de ser âncora e virar mar. Crie suas próprias ondas. Sua própria força. Seu próprio descanso e paz. Não é que você nunca tenha sido um repouso para mim, muitas vezes se fez praia, mas é que a sua praia se prendeu na minha com o balanço da minha rede e o peso da sua âncora. Meu amor, é que vida a dois é lado a lado, eu não posso mais ficar andando para trás e ir te buscar. Isso nos impede de progredir, eu nunca paro de voltar, e você nunca se mexe pra ir com o comodismo da carona. Então me promete só mais uma coisa? Promete que vai dar esses 15 passos sozinho? Promete que você vai surpreender o mundo inteiro com o mar que eu sei e vi que você é capaz de ser? Mesmo que eu não presencie tudo isso, só promete pra mim? Promete pra mim que você vai conseguir dar aquela gargalhada gostosa consigo mesmo? E quando você chegar no 15º passo sozinho você vai se lembrar de mim e vai entender porque te deixei, eu te libertei... - Luísa Monte Real