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O costumeiro e o Inconsciente

 Digestão e tempo numa análise 


           Estava fazendo alongamento e comecei a pensar sobre minha análise e seus processos, como de costume. Costume... sempre costumo pensar na minha análise nessa mesma hora em que estou mexendo meu corpo, mexendo onde dói, se dói minha coluna, se me sinto cansada, se me dói a cabeça, se fico enjoada enquanto rolo minha cabeça até o pé, se estou mais disposta, descansada ou sem dores alguma. Começo a pensar nessa repetição: costumo fazer minha aula de pilates depois da minha análise, onde às vezes pensando e mexendo em algum músculo me vem algumas lágrimas, enquanto mergulham em mim palavras, entonações e vozes que foram ditas durante aquele tempo que se passou a sessão, e durante o tempo de meu pilates que também passa, passo a limpo os ditos desse outro tempo que acabou de se passar. E começo a pensar o quão é importante aquele espaço, em que não falo nada, mas me movo enquanto penso e escuto minha própria análise. Vou atrás e lembro que já fazia isso, durante as 2h que eu levava indo para minha faculdade. E por ser costumeiro, quase sem pensar, pois não era um pensamento de: preciso pensar e captar o que falei, o que não falei, era simplesmente deixar ser caminhada por aquelas palavras e afetos, sem que eu notasse. 

O inconsciente mora também aí, nos detalhes, nos costumes, nas repetições que não percebo, era o movimento dele mesmo de montar e desmontar frases, histórias. O trabalho se dá aí, sem que eu possa perceber, sem que eu saiba conscientemente, mas saiba em outro lugar. E me dou conta da importância desses pequenos hiatos, dessa pequena pausa onde posso digerir, mastigar e tirar algum pedaço que possa ter ficado entre meus dentes. A importância de não sair fazendo alguma outra coisa com meus pensamentos, minha atenção na correria que esse mundo nos exige, e não esvaziando o que se passou naquela hora. Um respiro porque fazer análise nem sempre promove um bem-estar, às vezes ainda que sentindo um alívio enorme de ter falado, aquelas palavras que saíram da minha boca ganham ainda mais vida em meu corpo, esse que mexo e remexo depois de deitada no divã. 

Te Rotinamar


    A verdade é que eu te chamaria fácil de "amor" em meio a um sorriso e risada boba, revirando os olhos dizendo que você tá com o hálito de cerveja, e você faz careta dizendo que sou chata e não sabe como eu não gosto dessa coisa tão sagrada. E aí depois a gente parte para outra discussão onde eu tento entender o porquê de você e o mundo acharem que a palavra "top" não é top. E você iria rir achando que eu sou estranha, enquanto eu te abraçava e sentia em meu ouvido sua risada ecoar por dentro do seu corpo e sentiria seu calor ao me abraçar de volta.
   É que eu facilmente me imagino com você em um domingo frio, em um final de tarde de tédio, na sua sala de estar, terminando de ver algum filme que a gente nem gostou e ficamos em silêncio olhando um para a cara do outro esperando a noite chegar e eu ter que ir embora, deixando sua casa vazia numa sensação de como se a tarde tivesse sido tão mais legal assim comigo. A verdade é que eu consigo me imaginar te olhando com os olhos brilhando como se você me despertasse uma luz de alegria boba que vem de dentro para fora. E eu fitaria meus olhos em sua boca e depois olharia por dentro dos teus olhos implorando para que você adentrasse nos meus. Enquanto se aproxima para beijar minha boca que você acha ela tão bonita, desenhadinha, em forma de coração onde na ponta ela tem uma falha que a torna única, que te desperta mais ainda o desejo de ser só sua. É que eu não sei se você é perfeccionista. Se for, essa seria a falha perfeita em meus lábios, e se não for, os lábios seriam perfeitos pela falha. E aí, eu viraria o rosto para você beijar minha bochecha e sentir meu cheiro que te faz me querer mais apertada em teus braços. 
    É que eu consigo imaginar a gente discutindo quais sabores de sorvete são os melhores e você me achando um E.T. por dizer que eu nem sou tão fã de sorvete assim, e eu te achando ridículo por ver tanta graça assim. É que eu consigo imaginar essa mistura de uma fantasia quase sem graça de tão clichê, com uma chatice viciante de tão gostosa. É que eu consigo imaginar a gente caindo na rotina de um amor sem graça e comum, mas que dá sentido e euforia. A verdade é que eu consigo imaginar você fazendo piada de como eu durmo na posição de uma múmia dando a impressão de que morri, mas o quanto na verdade adora acordar antes para ficar me analisando naquela cena engraçada que faz eu parecer tão linda em teus olhos. Depois em uma vontade de me esmagar, você deita a cabeça em meu ombro encostando o nariz no meu pescoço e sentindo meu cabelo em seu rosto, me abraça com pernas e braços dando um sorrisinho que é quase um suspiro da alma. A verdade é que eu consigo imaginar eu fingindo que dormi nos teus braços, só pra você ajeitar meu cabelo para trás da orelha e beijar minha testa. E aí quando ouço sua respiração mais forte sei que dormiu e coloco-me mais perto para ouvi-la melhor enquanto desenho devagarinho seus braços, seus ombros e seu tórax com a ponta dos dedos. Depois brinco com a sua barba bem devagar para não te acordar, e penso que nunca fui muito de gostar de barbas, e que elas pinicam, mas que a sua cai tão bem no seu rosto. Aquela barba meio ruiva, meio castanha, que não sei como virou moda do nada se genética não se pinta. E penso que não interessa com ou sem barba, eu iria achar a coisa mais gracinha para se refletir antes de dormir. Você.    A verdade é que eu ainda não sinto nada dessas coisas e nem sei se sentiria, mas consigo imaginar e mergulhar nisso como se realmente tivesse vivenciado ou quisesse vivenciar com você. Talvez você me ache louca, mas desenhei em minhas memórias toda uma rotina do nosso amor e já não sei o que é meu e o que é do (a)mar que inventei de nadar com você. Sem saber se quero querer, eu imagino querer te rotinamar. - Luísa Monte Real